Odete dormia, um sono agitado povoado dos monstros do dia-a-dia, a conta do merceeiro, da padeira que com certeza amanhã não lhe poria o pão na porta por falta de pagamento, a prestação da mota do marido, os livros do filho, o fim do mês já aí com outra renda para pagar. E amanhã um novo dia de trabalho, mais teares, mais urdideiras, mais teias, mais lançadeiras… Mais…Mais…Ouve-se o trinco da porta, o Artur chegou… Ouviu-lhe o passo trôpego na escuridão á procura do interruptor da luz, algo que cai ao chão na alcatifa mas não partiu, ouve-se uma imprecação. Pela voz percebe que já esteve a beber, a luz do quarto acende-se, a Odete fecha os olhos fingindo-se a dormir. Ouve o restolhar da roupa do Artur a ser despida. O Artur deita-se a seu lado na cama sem apagar a luz, ela cerra as pálpebras numa imprecação surda. Sente-lhe a respiração no pescoço mesmo por trás dela, num bafo misto de tabaco barato e álcool bagaceiro. Ele puxa-lhe o lençol para baixo até á altura das coxas, ela tenta segurar o lençol tentando disfarçar o movimento inocente do sono, de uma forma dolente, mas ele não desiste, acto continuo puxa-lhe a camisa de dormir para a cintura descobrindo-lhe as alvas coxas, metendo-lhe a mão por dentro das cuecas, sentiu a mão dura e calejada entre as nádegas percorrendo a sua extensão até lhe encontrar o ventre salpicado de uma profusão de pelos, secos como o seu interior, mas isso não o fez desistir enfiando-lhe dois dedos de uma só vez, violando-lhe a intimidade, ela geme de dor – “tu gostas…” – disse-lhe ele em tom vaidoso de macho sem eira nem beira. Já com o pénis entumecido, nessa mesma posição o Artur afasta-lhe as cuecas para o lado e começa a procurar a entrada da gruta substituindo os dedos pelo dardo que lhe entra como ferro em brasa queimando-a como tal, devassando-lhe a intimidade, humilhando a sua condição de mulher. O vai e vem foi rápido e doloroso, Odete sentiu o liquido quente a invadi-la quase de imediato. O nojo quase lhe provoca um vómito. Ele deixou-se ficar ainda um pouco dentro dela até se retirar, procurou um lenço na mesa-de-cabeceira e acto contínuo limpou-se – “gostaste?” – perguntou-lhe. – Odete nem lhe respondeu apertando as pernas para não derramar nenhum resquício imundo nos lençóis que tanto trabalho lhe dão a lavar no ribeiro – “e se me desses uma tolha em vez de me fazeres perguntas parvas?” – “foda-se, mulher frígida, nem sabe dar prazer ao home, pega lá a puta da toalha” – atirou-lhe com a toalha á cara num acto de desprezo. Odete amarfanha a toalha dentro das cuecas e levanta-se, dirige-se á casa de banho, olha as horas no relógio, duas e trinta da manhã, às cinco o despertador tocará, o seu turno começa às seis. Senta-se no bidé e deixa a água limpa inundá-la retirando-lhe a imundice, Odete esfrega com o sabão, mais e mais, tentando retirar toda a imundice do corpo, da alma…Mas ela continua lá… A imundice, no corpo, na alma… Na vida. Artur dormia já o sono dos justos.
O Hino Americano(Sketch 52) - lud
Há 1 hora
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