sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Janela aberta
Abres-me a janela da alma, descobres-me a centelha de um desejo amordaçado nas deambulações nocturnas onde te entranhas em mim. Caminhas ao meu lado nessas introspecções, quase te sinto a presença, adivinho-te o cheiro a flores do campo, promessa de estio manso na intimidade que me vais revelando. Sonho-te a curva do teu corpo, como regato que serpenteia monte abaixo na saciedade de terra fértil que quero ser assim ao teu lado, decoro-te de urze e rosmaninho nos cabelos que emolduram o teu sorriso límpido e cantante como a fonte de água renovadora que esmera o liso seixo numa forma lenta mas sempre nova na renovação do dia. Sabe-me a pureza, esse beijo que brota da tua fonte, como a água que escorrega pela vereda nos socalcos de teu corpo que adivinho fremente na hora em que te penso. Roubo-te a visão da tua intimidade que guardo na doce lembrança, na suave esperança que a vais querer abrir para mim na hora que marcaste para o nosso (re)encontro. E quando o teu olhar cair sobre o meu ouvirei a fonte a marulhar…serena, meiga, calar-se-ão os rufares do Minho para se ouvir o mais belo som… o silêncio puro do teu amor entoando na minha alma.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
O poema que te faço
Meu,
Teu sorriso
Ciranda de luz
Na curva de um ocaso distante,
Desenhado em raios, de sol poente
Que me ofuscam na certeza da tua presença.
No teu orgulho de sol nascente, beleza de horizontes
Da noite que cede ao dia o espaço que me habitas numa presença
Terna, afago do calor da tarde, terra fecunda que iluminas é o que sou,
Alimentado pela tua luz que me chega, dia a dia sem ser minha mas que me ilumina
Na generosidade dos contrastes do lusco-fusco do dia que cede á noite espaço, quando não estás.
E encontro beleza até mesmo nessa ausência em que te procuro nas réstias de mim,
Noite difusa que me atravessa, quando te procuro vazio que deixaste.
Vazio d’alma que procuro encontrar na memória do teu sorriso que
Esculpiste, assim, indelével na minh’alma, a ferro e fogo
Na espera da manhã que me trás a tua tarde.
E entardecemos juntos a espera da noite
No ocaso do sol que pronuncias
Ciranda de luz
Meu sorriso,
Teu
Teu sorriso
Ciranda de luz
Na curva de um ocaso distante,
Desenhado em raios, de sol poente
Que me ofuscam na certeza da tua presença.
No teu orgulho de sol nascente, beleza de horizontes
Da noite que cede ao dia o espaço que me habitas numa presença
Terna, afago do calor da tarde, terra fecunda que iluminas é o que sou,
Alimentado pela tua luz que me chega, dia a dia sem ser minha mas que me ilumina
Na generosidade dos contrastes do lusco-fusco do dia que cede á noite espaço, quando não estás.
E encontro beleza até mesmo nessa ausência em que te procuro nas réstias de mim,
Noite difusa que me atravessa, quando te procuro vazio que deixaste.
Vazio d’alma que procuro encontrar na memória do teu sorriso que
Esculpiste, assim, indelével na minh’alma, a ferro e fogo
Na espera da manhã que me trás a tua tarde.
E entardecemos juntos a espera da noite
No ocaso do sol que pronuncias
Ciranda de luz
Meu sorriso,
Teu
Quando a vergonha sai á rua
No dia em que a vergonha saiu á rua
Nos passos da mentira a galope do nojo
Apedrejaram o povo, cuspiram-lhe no orgulho
Fizeram da sua pele mala de estojo
Qual animal acossado o povo calou
Amordaçou a revolta, cortou as asas
Á palavra da liberdade, aplaudiu a mentira
Aniquilou o poema em rimas arrasadas
A gaivota mais não voa, nem a vinda
Da andorinha prenuncia a primavera
Espetam-lhe as esporas sangrentas
No flanco ardente em dor sincera
Viraram as costas á esperança
Á doce palavra das lembranças
E nesse poema de rimas arrasadas
Puseram-na a rimar com desgraças
Mais uma vez apelam á triste sorte
Nas rezas em volta do santuário
De branco pintado, de vergonha
O cobriram com o ouro imaginário
Sempre que a vergonha sai á rua
Apelam ao povo e cantam o triste
Fado repetido e revivido mil vezes
A um povo que assim já não resiste
Não sabem os tolos a tua sabedoria
Que és paciente nessa eterna espera
Que por morrer a errante andorinha
Não acaba nunca a primavera
Que em vez da vergonha
A revolta sairá de novo á rua
E que nessa rusga o teu grito
É o teu orgulho que se perpetua
Nos passos da mentira a galope do nojo
Apedrejaram o povo, cuspiram-lhe no orgulho
Fizeram da sua pele mala de estojo
Qual animal acossado o povo calou
Amordaçou a revolta, cortou as asas
Á palavra da liberdade, aplaudiu a mentira
Aniquilou o poema em rimas arrasadas
A gaivota mais não voa, nem a vinda
Da andorinha prenuncia a primavera
Espetam-lhe as esporas sangrentas
No flanco ardente em dor sincera
Viraram as costas á esperança
Á doce palavra das lembranças
E nesse poema de rimas arrasadas
Puseram-na a rimar com desgraças
Mais uma vez apelam á triste sorte
Nas rezas em volta do santuário
De branco pintado, de vergonha
O cobriram com o ouro imaginário
Sempre que a vergonha sai á rua
Apelam ao povo e cantam o triste
Fado repetido e revivido mil vezes
A um povo que assim já não resiste
Não sabem os tolos a tua sabedoria
Que és paciente nessa eterna espera
Que por morrer a errante andorinha
Não acaba nunca a primavera
Que em vez da vergonha
A revolta sairá de novo á rua
E que nessa rusga o teu grito
É o teu orgulho que se perpetua
sábado, 21 de fevereiro de 2009
...À noite
Sinto a noite a avançar
A penumbra que se entranha
Réstias de mim que saem
Fico só, ninguém me acompanha.
Numa viagem que quero fazer
Ainda que sofra e me doa
Enceto o percurso, faço as malas
Embarco sem remos na canoa
Levanto a gola ao vento agreste
Da indiferença que me assola
Aperto-me na insensibilidade
Sem sentir o frio que me enrola
Busco a noite mais negra
De olhos fechados a vagar
Num sabor etéreo que me mente
Na busca que faço…devagar
As respostas nunca as encontro
Não as quero nunca encontrar
Nego-as como quem nega
A morte lenta e cínica a chegar.
Procuro caminhos sem rumo
Trilhos que ninguém percorreu
E chegado á encruzilhada
A penumbra que se entranha
Réstias de mim que saem
Fico só, ninguém me acompanha.
Numa viagem que quero fazer
Ainda que sofra e me doa
Enceto o percurso, faço as malas
Embarco sem remos na canoa
Levanto a gola ao vento agreste
Da indiferença que me assola
Aperto-me na insensibilidade
Sem sentir o frio que me enrola
Busco a noite mais negra
De olhos fechados a vagar
Num sabor etéreo que me mente
Na busca que faço…devagar
As respostas nunca as encontro
Não as quero nunca encontrar
Nego-as como quem nega
A morte lenta e cínica a chegar.
Procuro caminhos sem rumo
Trilhos que ninguém percorreu
E chegado á encruzilhada
Encontro o caixão do meu eu
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
Em terra de cegos...
Saiu do restaurante com a moça
Enfardado em arroz de tamboril
Entremeado por duas garrafas de branco
Apalpou-a ali mesmo contra o peitoril
Da janela envidraçada de preto fosco
Servia de espelho para se ver, e ver
Os peitos da moça esmagados
Contra a vidraça, o rosto a perecer
De prazer incontido ali mesmo, ao frio
O moço por trás fazia o que lhe competia
Num ir e vir de ancas e gemido abafado
Agarrando-lhe o lombo enquanto a comia
Do outro lado da tasca não sabiam
O vidro era transparente e todos viam
O moço a cavalgar a moça para fugir ao frio
E era de tal maneira que já os suores desciam
Senhoras envergonhadas tapavam os olhos
Cavalheiros lúbricos deitavam o olho
Mas todos queriam mesmo era ver
Até o patrão que era zarolho
Mas não era burro, gabava-se
O proprietário que manda parar
Os empregados que corriam
Para o festim erótico acabar
- Que ninguém os incomode
Que amar não é contra a lei
Aumenta-se a conta das mesas
Que eu aqui sou dono e é que sei
Que em terra de cegos
Quem tem um olho é rei
Por conta do espectáculo
Mais dinheiro farei
Enfardado em arroz de tamboril
Entremeado por duas garrafas de branco
Apalpou-a ali mesmo contra o peitoril
Da janela envidraçada de preto fosco
Servia de espelho para se ver, e ver
Os peitos da moça esmagados
Contra a vidraça, o rosto a perecer
De prazer incontido ali mesmo, ao frio
O moço por trás fazia o que lhe competia
Num ir e vir de ancas e gemido abafado
Agarrando-lhe o lombo enquanto a comia
Do outro lado da tasca não sabiam
O vidro era transparente e todos viam
O moço a cavalgar a moça para fugir ao frio
E era de tal maneira que já os suores desciam
Senhoras envergonhadas tapavam os olhos
Cavalheiros lúbricos deitavam o olho
Mas todos queriam mesmo era ver
Até o patrão que era zarolho
Mas não era burro, gabava-se
O proprietário que manda parar
Os empregados que corriam
Para o festim erótico acabar
- Que ninguém os incomode
Que amar não é contra a lei
Aumenta-se a conta das mesas
Que eu aqui sou dono e é que sei
Que em terra de cegos
Quem tem um olho é rei
Por conta do espectáculo
Mais dinheiro farei
um outro sempre
Ouço a tua respiração
No quarto às escuras
Nesse mimo benfazejo
Dos sonhos que me murmuras
Tua cabeça recostada no meu peito
Tua perna traçada por cima da minha
Uma mão, tua, que me entrelaça
Outra minha que te acarinha
Será sempre assim meu amor
Este nosso recanto de alma
Sensação de eternidade que me dás
No fim do céu, tem oásis que acalma
No fim de vagas alterosas
Em que o céu me dás
O oásis calmo e sereno
Que o teu amor me traz.
No quarto às escuras
Nesse mimo benfazejo
Dos sonhos que me murmuras
Tua cabeça recostada no meu peito
Tua perna traçada por cima da minha
Uma mão, tua, que me entrelaça
Outra minha que te acarinha
Será sempre assim meu amor
Este nosso recanto de alma
Sensação de eternidade que me dás
No fim do céu, tem oásis que acalma
No fim de vagas alterosas
Em que o céu me dás
O oásis calmo e sereno
Que o teu amor me traz.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Cronica do anuncio
Tenho-te visto aqui e ali
Num andar de moribundo
Observo-te sem que me vejas
Nesse ar de vagabundo
Proscrito no sentimento
Assertivo nas tristezas
Já lhe vês o fundo
A essa vida sem certezas
Olho-te os sapatos bambos
As roupas nos cotovelos puídas
O andar quebradiço de esqueleto
Nas constantes vindas e idas
Está perto o dia em que te surgirei
De rompante, ou não, que já sabes
Pela dor de alma que transpareces,
Pelo olhar sem infinito que trazes
Que te venho já mandada,
Que te cerquei, já sem sorte
No abandono a que te votaram
Vais-me receber a mim, a morte.
Num andar de moribundo
Observo-te sem que me vejas
Nesse ar de vagabundo
Proscrito no sentimento
Assertivo nas tristezas
Já lhe vês o fundo
A essa vida sem certezas
Olho-te os sapatos bambos
As roupas nos cotovelos puídas
O andar quebradiço de esqueleto
Nas constantes vindas e idas
Está perto o dia em que te surgirei
De rompante, ou não, que já sabes
Pela dor de alma que transpareces,
Pelo olhar sem infinito que trazes
Que te venho já mandada,
Que te cerquei, já sem sorte
No abandono a que te votaram
Vais-me receber a mim, a morte.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
cantigas de amor/ a volta do correio
Espero ainda pela tua carta
Olho todos os dias a janela
Na hora em que o correio chega
Ansioso por ler o que me revela
O carteiro vem longe na bicicleta
Trinando a campainha no seu andar
Logo corro na ânsia que corrói
Desesperado pela carta lhe perguntar
Ele acena-me com a cabeça
Que não, ainda não foi desta
Triste, fecho-me no meu casulo
Amanhã, é a esperança que me resta
O teu amor sabe-me sempre assim
A dia seguinte, epilogo adiado
Seara que já ninguém cuida
Nessa ânsia de ser por ti amado
Espero ainda e sempre pela tua carta
Meu amor, aconchega-me a esperança
D’essa carta que ainda há-de vir,
Que espero assim na serena lembrança
Do teu sorriso e do olhar eterno
Que me lançaste no dia da romaria
Da tua voz trinada, na promessa
Tão terna, que guardo ainda a melodia
Olho todos os dias a janela
Na hora em que o correio chega
Ansioso por ler o que me revela
O carteiro vem longe na bicicleta
Trinando a campainha no seu andar
Logo corro na ânsia que corrói
Desesperado pela carta lhe perguntar
Ele acena-me com a cabeça
Que não, ainda não foi desta
Triste, fecho-me no meu casulo
Amanhã, é a esperança que me resta
O teu amor sabe-me sempre assim
A dia seguinte, epilogo adiado
Seara que já ninguém cuida
Nessa ânsia de ser por ti amado
Espero ainda e sempre pela tua carta
Meu amor, aconchega-me a esperança
D’essa carta que ainda há-de vir,
Que espero assim na serena lembrança
Do teu sorriso e do olhar eterno
Que me lançaste no dia da romaria
Da tua voz trinada, na promessa
Tão terna, que guardo ainda a melodia
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Dia dos namorados (ou outro qualquer)
Dia dos namorados e apaixonados
Mais uma obra do capitalismo
Assoberbado na ganância
Na invenção do puro consumismo
São os dias das mães, e dos filhos
Os dias dos santos e dos pais
Truques de bazar baratos
Para parvos e outros que tais
Não tem dinheiro para água nem luz
Mas tem para o ramo de flores
Para a batata frita em tasca de esquina
Onde lhe jura eternos amores
Nos outros dias dá-lhe na tromba
Trata-a de escrava para baixo
Mas nesse dia ela acredita
Nas juras de olhar cabisbaixo
Áh(!) povo de triste cepa
Que te enfardas nos dejectos
Vives os dias nessa imbecilidade
Pútrida, de escolhos abjectos
Com pouco te contentas
Nesse andar sem eira nem beira
Aceitas o que no prato te põem
Bife, de porca frigideira.
Mais uma obra do capitalismo
Assoberbado na ganância
Na invenção do puro consumismo
São os dias das mães, e dos filhos
Os dias dos santos e dos pais
Truques de bazar baratos
Para parvos e outros que tais
Não tem dinheiro para água nem luz
Mas tem para o ramo de flores
Para a batata frita em tasca de esquina
Onde lhe jura eternos amores
Nos outros dias dá-lhe na tromba
Trata-a de escrava para baixo
Mas nesse dia ela acredita
Nas juras de olhar cabisbaixo
Áh(!) povo de triste cepa
Que te enfardas nos dejectos
Vives os dias nessa imbecilidade
Pútrida, de escolhos abjectos
Com pouco te contentas
Nesse andar sem eira nem beira
Aceitas o que no prato te põem
Bife, de porca frigideira.
Inocência roubada
Apaga-se a luz no quarto,
Sobre a casa, desce a noite
Envolve-se em penumbra
Cai em volta como um açoite
O escuro breu mete medo
Á menina apavorada
Vem assim de mansinho
A crueldade mascarada
Mascara-se de pai, ou de tio
Podia ser outro familiar
Besta na noite calada
Vem a sua inocência acariciar
Queria ser eu a velar-te
Proteger-te desses tormentos
Da noite fazer-te puro leito
Onde espreguiças os sentimentos
Sem culpa e sem mácula
Sem que te apontem dedos
Já te basta a desgraça
Desses escondidos segredos
Não te culpes minha flor
Da besta que te viola
Liberta-te desse medo
Do pavor que te assola
Sobre a casa, desce a noite
Envolve-se em penumbra
Cai em volta como um açoite
O escuro breu mete medo
Á menina apavorada
Vem assim de mansinho
A crueldade mascarada
Mascara-se de pai, ou de tio
Podia ser outro familiar
Besta na noite calada
Vem a sua inocência acariciar
Queria ser eu a velar-te
Proteger-te desses tormentos
Da noite fazer-te puro leito
Onde espreguiças os sentimentos
Sem culpa e sem mácula
Sem que te apontem dedos
Já te basta a desgraça
Desses escondidos segredos
Não te culpes minha flor
Da besta que te viola
Liberta-te desse medo
Do pavor que te assola
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Cantigas de amor /esquina da saudade
Eras a mais linda em meus olhos,
Marcaste encontro comigo
Numa esquina do destino.
Meu bem-querer que persigo
Pelas manhãs d’espera cadentes
Nas tardes frias da existência
Neste inverno d’alma
Que chora a tua ausência.
És a mais linda em meus olhos
Meu amor triste de sol-posto.
Espero-te nessa esquina
Em que relembro o teu rosto,
Faz-se tarde na minh’alma
Nessa espera que me enlouquece,
Cerra-se a luz nos meus olhos
Enquanto a espera me anoitece.
Cai a noite na esquina, velada
Pela sombra da recordação
No frio quente que me atravessa
Na esquina da minha solidão.
Queria a centelha do teu sorriso
Raio de luz na esquina de noite parda
Continuo na espera serena
Do doce clarão da madrugada.
Marcaste encontro comigo
Numa esquina do destino.
Meu bem-querer que persigo
Pelas manhãs d’espera cadentes
Nas tardes frias da existência
Neste inverno d’alma
Que chora a tua ausência.
És a mais linda em meus olhos
Meu amor triste de sol-posto.
Espero-te nessa esquina
Em que relembro o teu rosto,
Faz-se tarde na minh’alma
Nessa espera que me enlouquece,
Cerra-se a luz nos meus olhos
Enquanto a espera me anoitece.
Cai a noite na esquina, velada
Pela sombra da recordação
No frio quente que me atravessa
Na esquina da minha solidão.
Queria a centelha do teu sorriso
Raio de luz na esquina de noite parda
Continuo na espera serena
Do doce clarão da madrugada.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Sempre
Falas-me de ti, de mim, de nós, nas correntes que entrelaçamos
Em volta do sentimento que nos agarra em ilha que criamos.
Vogamos nas asas da penumbra em busca de vislumbrar
Réstia de sol, de luz que tanto almejamos, na certeza
De que ela está lá, algures acoitada, para nós,
Esperamos o dia em que vogaremos
Enfim libertos de convenções
Restolhos de penumbra
Que rasgamos assim.
Que rasgo, amor
Por te querer,
Sempre
E só, a
Ti
Em volta do sentimento que nos agarra em ilha que criamos.
Vogamos nas asas da penumbra em busca de vislumbrar
Réstia de sol, de luz que tanto almejamos, na certeza
De que ela está lá, algures acoitada, para nós,
Esperamos o dia em que vogaremos
Enfim libertos de convenções
Restolhos de penumbra
Que rasgamos assim.
Que rasgo, amor
Por te querer,
Sempre
E só, a
Ti
Cantigas de escárneo e mal-dizer /cu abençoado
Agradecendo a divina graça
Rezou ao São Judas Tadeu
Ajoelhada em belo estado
O lindo cu que deus lhe ofereceu
E assim rezando ajoelhada
Era como melhor se apreciava
Aquele belo cu que na aldeia
Mais nenhum se lhe aparentava
Eram aos magotes os malandros
A apreciá-lo em dia de procissão
Os caminhos da aldeia ladeavam
E no fim faziam fila para confissão
Levavam duras penitências
Por cobiçarem mulher alheia
Por espreitarem com lascívia
A liga que culminava a fina meia
Nos dias de confissão acorriam
Para verem seu lindo cu mimoso
Entre risos e trejeitos envergonhados
Lançavam olhar malandro e guloso
- Áh, tristes penas eu tenho -
Dizia envergonhado o abade
-deixasse-me a linda donzela
Dava-lhe com o badalo de verdade
Rezou ao São Judas Tadeu
Ajoelhada em belo estado
O lindo cu que deus lhe ofereceu
E assim rezando ajoelhada
Era como melhor se apreciava
Aquele belo cu que na aldeia
Mais nenhum se lhe aparentava
Eram aos magotes os malandros
A apreciá-lo em dia de procissão
Os caminhos da aldeia ladeavam
E no fim faziam fila para confissão
Levavam duras penitências
Por cobiçarem mulher alheia
Por espreitarem com lascívia
A liga que culminava a fina meia
Nos dias de confissão acorriam
Para verem seu lindo cu mimoso
Entre risos e trejeitos envergonhados
Lançavam olhar malandro e guloso
- Áh, tristes penas eu tenho -
Dizia envergonhado o abade
-deixasse-me a linda donzela
Dava-lhe com o badalo de verdade
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Cantigas de amigo
Vem pela noite calada
Cantar no meu beiral
Trinar tuas cordas
À minha alma apaixonada
Enleva-me com a tua voz
Nesse canto de cotovia
Anunciar a felicidade
Que chegou enfim a nós
Leva-me amor no teu corcel
Coração em disparada
Sem rumo ou destino
Ata-me em teu cordel
Transporta no peito meu amor
Esta canção que te dedico
Leva-me para lá do firmamento
E ama-me enfim com todo ardor
Cantigas de amor
Vem velar o sono
De mim, e de ti
Devolve a alma
Coração sem dono
Quero-te assim ter
Lábios de formosura
Sorriso de sempre
Meu bem-querer
Teus cabelos molhados
Moldura de teu rosto
Dá-me agora os beijos
Que deste antes roubados
Vem acelerar o passo
De meu coração
Outrora parado
E bate agora em compasso
Das cantigas que me dedicas
Da tua boca em trova
Teus olhos em deleite
Caminhos que me indicas
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Mataram a Mariana
Chamava-se Mariana
A puta esquartejada
Em todo lado largada
Entre toda a traquitana
Numa água furtada
O assassino a largou
Depois que a matou
Roubada e abandonada
Réstias de gente vizinha
Como Ângelo ao lado
Em tiques de abandonado
E cego que adivinha
Louco de acordeão
Tocava aos tolos
P’a macacos e parolos
Para louca multidão
Mas o cego a todos engana
Que de cego tinha o nome
E de assassino o pronome
E matou a pobre Mariana
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Rumo ao desconhecido
Vem,
Na celebração do encontro
Fundear-me no teu mar
De vagas alterosas
Onde me perco em busca
De ti, das tuas águas mansas
Vem,
Para que lance amarras
No teu leito, enfune as minhas velas
Nas ondas em que te sonho
Lá onde o céu se une ao mar
Lá, onde não me deixas ver.
Vem,
Dá-me o amplexo húmido
Das tuas águas, em cujo sabor
Salgado me quero embriagar
Num leito renovado, senão
Revolto, cálido como te imagino.
Vem…
Na celebração do encontro
Fundear-me no teu mar
De vagas alterosas
Onde me perco em busca
De ti, das tuas águas mansas
Vem,
Para que lance amarras
No teu leito, enfune as minhas velas
Nas ondas em que te sonho
Lá onde o céu se une ao mar
Lá, onde não me deixas ver.
Vem,
Dá-me o amplexo húmido
Das tuas águas, em cujo sabor
Salgado me quero embriagar
Num leito renovado, senão
Revolto, cálido como te imagino.
Vem…
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
O mar levou a Teresa
O maldito mar levou a Teresa
Enquanto ela ouvia o marulhar
Das ondas tempestivas na orla
Da praia, perdida na incerteza
Desapareceu num final de tarde
A pobre Teresa, assim levada
Nos seus devaneios solitários
Buscando a incógnita verdade
Foi levada na praia do Furadouro
Deu á costa na praia de Esmoriz
A pobre Teresa desfalecida
Lá para os lados do ancoradouro
Abandona três meninos á sua sorte
Três almas que além da desdita
De perder a pobre e triste mãe
Ficam agora sem rumo e sem norte
Vão para um lar de acolhimento
Dizem as notícias que nos veem
Descrever o macabro da morte
Esquecidas do triste sentimento
Que tenho em viver num país
Que acolhe a morte de uma mãe
Condena os filhos a morte lenta
E continua a viver alegre e feliz.
Cai assim, como o mar sobre a Teresa
Uma morte sem tumba nem epitáfios
Duma imprensa e de um pobre país
Que só da triste morte lhe dão a certeza
Enquanto ela ouvia o marulhar
Das ondas tempestivas na orla
Da praia, perdida na incerteza
Desapareceu num final de tarde
A pobre Teresa, assim levada
Nos seus devaneios solitários
Buscando a incógnita verdade
Foi levada na praia do Furadouro
Deu á costa na praia de Esmoriz
A pobre Teresa desfalecida
Lá para os lados do ancoradouro
Abandona três meninos á sua sorte
Três almas que além da desdita
De perder a pobre e triste mãe
Ficam agora sem rumo e sem norte
Vão para um lar de acolhimento
Dizem as notícias que nos veem
Descrever o macabro da morte
Esquecidas do triste sentimento
Que tenho em viver num país
Que acolhe a morte de uma mãe
Condena os filhos a morte lenta
E continua a viver alegre e feliz.
Cai assim, como o mar sobre a Teresa
Uma morte sem tumba nem epitáfios
Duma imprensa e de um pobre país
Que só da triste morte lhe dão a certeza
Eu não sou poeta
Eu não sou poeta
Sou outro
Com a palavra no coldre
A razão nos sentidos
Engatilho a palavra
De mil metáforas
Travestidas de verdades.
Não sou poeta
Sou a lâmpada
Que ilumina
Vão de escada
Que encobre dejectos
Pútridos de consciência.
Não sou poeta
Sou o raio que atravessa
A noite na cauda de um morteiro
Mensageiro da desgraça
Do infortúnio alheio.
Não sou poeta
Sou candeeiro de rua escura
Testemunha da devassa
Da puta de mão em mão
Do chulo que lhe enegrece a face
Em insulto de sevícia
Rouba o dinheiro e o orgulho.
Não sou poeta
Sou a chama que vela
A morte da criança
Esquecida até da morte
Que não a leva
Mas atormenta-lhe o sonho.
Não sou poeta
Sou o raio da tormenta
Que desaba em bairro de lata
Que mais miséria acrescenta
Nos descamisados
Que misturam lágrimas
Á chuva que os atormenta.
Não sou poeta
Parido de uma inconsciência
Filho da intolerância
Prostituída com o acaso
Não sou poeta…
Não me chamem poeta…
Sou outro
Com a palavra no coldre
A razão nos sentidos
Engatilho a palavra
De mil metáforas
Travestidas de verdades.
Não sou poeta
Sou a lâmpada
Que ilumina
Vão de escada
Que encobre dejectos
Pútridos de consciência.
Não sou poeta
Sou o raio que atravessa
A noite na cauda de um morteiro
Mensageiro da desgraça
Do infortúnio alheio.
Não sou poeta
Sou candeeiro de rua escura
Testemunha da devassa
Da puta de mão em mão
Do chulo que lhe enegrece a face
Em insulto de sevícia
Rouba o dinheiro e o orgulho.
Não sou poeta
Sou a chama que vela
A morte da criança
Esquecida até da morte
Que não a leva
Mas atormenta-lhe o sonho.
Não sou poeta
Sou o raio da tormenta
Que desaba em bairro de lata
Que mais miséria acrescenta
Nos descamisados
Que misturam lágrimas
Á chuva que os atormenta.
Não sou poeta
Parido de uma inconsciência
Filho da intolerância
Prostituída com o acaso
Não sou poeta…
Não me chamem poeta…
A menina dos fósforos (ou um grito á indiferença)
Na rua escura frio estava
A neve não parava de cair
O vento sempre a fluir
Tão forte que a roupa furava
-Quem quer fósforos baratos?
Assim a menina apregoa
Antes que a alma lhe doa
Aos transeuntes ingratos
De pobres chinelos calçados
Entretanto por ali perdidos
Algures na neve escondidos
De lindos cabelos encaracolados
Sua pele de frio roxa
Emprestava-lhe mais beleza
Lábios carmins, olhar de pureza
Vestido que não lhe tapava a coxa
Mas o dia corria-lhe mal
Cheia de fome abandono e frio
Em longo e triste delírio
Aconchegou-se num beiral
Para casa assim não iria
Sem os fósforos vender
O pai irado ia-lhe bater
Ainda mais dor padeceria
Moravam em água-furtada
Frio e chuva por todo o lado
A mãe, tinha-se libertado
Pela lei da morte arrancada
Precisava a menina de calor
Tremente de frio e tristeza
Vivendo na triste certeza
De uma vida em constante dor
Decidiu um fósforo acender
Uma chama acesa e acolhedora
Olhada assim em ar de sonhadora
Naquela luz conseguiu ver
Uma linda lareira refulgente
Onde ardia uma linda chama
Ia sair pelo calor daquele drama
Aquecer-se na luz incandescente
Mas o fósforo logo apagou
Voltou a menina a tiritar
Daquele frio de rachar
De outro fósforo se lembrou
Logo uma mesa lhe apareceu
Em toalha alva contra a luz
Uma mesa de comida que reluz
Que belo manjar lhe apeteceu
Quando ia para comer
E a longa fome matar
A barriga da miséria tirar
O fósforo deixou de arder
Rápido, a menina outro acendeu
Apareceu a avó em aura de felicidade
Com seu olhar perene de caridade
-vem! - Disse, e o braço lhe estendeu
A menina deu-lhe logo a mão
Antes que o fósforo apagasse
E a sua avó também levasse
A felicidade do seu coração
Tomou a neta em seus braços
E levantando da terra os pés
Assim sem mais demoras nem revés
Fizeram das nuvens doces enlaços
Voaram num rasto de luz e cor
Assim de repente sem mais dor
As duas abraçadas em puro ardor
O céu curvou-se ao seu esplendor
Nasceu o dia o cadáver ignorando
Da menina que ainda sorria
Da morte que já não padecia
De merecido descanso gozando
A neve não parava de cair
O vento sempre a fluir
Tão forte que a roupa furava
-Quem quer fósforos baratos?
Assim a menina apregoa
Antes que a alma lhe doa
Aos transeuntes ingratos
De pobres chinelos calçados
Entretanto por ali perdidos
Algures na neve escondidos
De lindos cabelos encaracolados
Sua pele de frio roxa
Emprestava-lhe mais beleza
Lábios carmins, olhar de pureza
Vestido que não lhe tapava a coxa
Mas o dia corria-lhe mal
Cheia de fome abandono e frio
Em longo e triste delírio
Aconchegou-se num beiral
Para casa assim não iria
Sem os fósforos vender
O pai irado ia-lhe bater
Ainda mais dor padeceria
Moravam em água-furtada
Frio e chuva por todo o lado
A mãe, tinha-se libertado
Pela lei da morte arrancada
Precisava a menina de calor
Tremente de frio e tristeza
Vivendo na triste certeza
De uma vida em constante dor
Decidiu um fósforo acender
Uma chama acesa e acolhedora
Olhada assim em ar de sonhadora
Naquela luz conseguiu ver
Uma linda lareira refulgente
Onde ardia uma linda chama
Ia sair pelo calor daquele drama
Aquecer-se na luz incandescente
Mas o fósforo logo apagou
Voltou a menina a tiritar
Daquele frio de rachar
De outro fósforo se lembrou
Logo uma mesa lhe apareceu
Em toalha alva contra a luz
Uma mesa de comida que reluz
Que belo manjar lhe apeteceu
Quando ia para comer
E a longa fome matar
A barriga da miséria tirar
O fósforo deixou de arder
Rápido, a menina outro acendeu
Apareceu a avó em aura de felicidade
Com seu olhar perene de caridade
-vem! - Disse, e o braço lhe estendeu
A menina deu-lhe logo a mão
Antes que o fósforo apagasse
E a sua avó também levasse
A felicidade do seu coração
Tomou a neta em seus braços
E levantando da terra os pés
Assim sem mais demoras nem revés
Fizeram das nuvens doces enlaços
Voaram num rasto de luz e cor
Assim de repente sem mais dor
As duas abraçadas em puro ardor
O céu curvou-se ao seu esplendor
Nasceu o dia o cadáver ignorando
Da menina que ainda sorria
Da morte que já não padecia
De merecido descanso gozando
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