sexta-feira, 17 de abril de 2009

Sabe-me a sal o teu porão


Deixa-me descer ao teu porão,
Não quero mais ser âncora,
Quero flutuar
Pelo mar bravio do teu corpo
E afundar-me no precipício da tua intimidade.
Rasgar-te o ventre
Como quilha contra a maré,
Enfunar as velas em contra ciclo
Do vento norte.
Tomar tua boca como gomo de citrino
Que refresca e sara as feridas
Da longa viajem,
Saciar em teus seios a sede de água doce
Do teu corpo que ondula a cada vaga do desejo
Que nos assola.
No teu ventre procuro a noite
De águas plácidas em calmaria,
Lua ao largo em reflexos de prata
Que se estendem pelas praias de areia
Quente do meu corpo.
Quando entro no teu porão
Em vagas ondulantes,
Sou pirata do teu mar,
Corsário destemido
Em busca de abrigo da longa jornada
Desse mar sem fim,
Cabo das tormentas
Que vira Boa-Esperança,
No reencontro cálido
Do Atlântico com o Indico,
Do Pacifico quente na dobra da patagónia
Ao encontro do frio do pólo.
Suavizamos as marés nesse encontro,
Celebramos cada reencontro
Em investidas ondulantes
Que bebemos nos lábios,
Regatos de amor que alimentam oceanos.
Sabe-me a oceano o teu porão salgado,
Sabe-me a infinito a quilha da tua vontade.

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