Jorge Maria, ficou sentado a pensar na revelação que o sargento acabava de proferir, mirou o retrato a carvão dos pais a dominar o espaço por trás da secretária, as estantes repletas de livros carcomidos pela poeira do tempo que decoravam a sala, a pesada secretária do pai em tampo de couro lustroso, os seus tinteiros e aparos em prata, a mancha ao lado da porta que teimava em não sair apesar de lavado e esfregado tantos anos, mirou o tecto em gesso que acusava os anos sem restauro mas mantinha o ar austero no debruado manual que o decorava. Tentava pensar rapidamente:
- E o que tenho eu a ver com isso? Disparou a pergunta como um dardo agudo e seco.
- Ò Senhor Jorge, todos sabemos que o Sr. tem contas a ajustar com essas pessoas, pelo menos assim o pensa. Respondeu o sargento.
- Mas porque diz que tenho contas a ajustar com eles? Há quase quinze anos que não venho à terra e no dia a seguir em que chego o facto de eles morrerem faz-me merecer a vossa visita?
- Por isso mesmo, a terra estava calma, de repente chega o Sr e acontecem estas mortes todas? Todos sabemos a circunstancia da morte do Sr. seu pai, a sua saída extemporânea. Isso faz-me pensar em si como suspeito.
- Mas o que tem a morte do meu pai a ver com a morte destes infelizes Sr. Sargento?
O sargento calou-se, sentindo que tinha caído na armadilha, ajeitou o largo cinturão em volta da barriga, olhou desconfortável o criado mudo por trás do Jorge. Investiu noutra direcção:
- Onde estavam os dois hoje a partir das 7.30 da manhã? Perguntou muito resoluto no seu papel de investigador.
- O Sr. não respondeu á minha pergunta Sargento. Respondeu o Jorge.
- Quem está aqui para responder a perguntas é o Sr. e não eu…atacou o Sargento
- Nesse caso o Sr. ponha-se fora da minha casa e só falarei consigo quando estiver munido de uma intimação para recolher o meu depoimento. Retrucou o Jorge.
- Pensei que podíamos levar isto a bem Sr. Jorge mas pelos vistos o Sr. é tão teimoso como o seu pai. Quando proferiu isto o velho António dá um passo em frente com os olhos munidos de fúria assassina, Jorge levantou o braço impedindo o avanço dele. Levantou-se e sem proferir uma palavra dirigiu-se á porta do escritório, abriu-a, não ficou surpreendido por dar de caras com a sua irmã Joana do outro, virou-se para trás e fez um sinal com a cabeça para o sargento, que compreendendo o gesto se pôs em movimento em direcção á saída:
- Eu voltarei Sr. Jorge e desta vez será pior para si ou para esse seu maldito criado mudo. Ameaçou entre dentes mal disfarçando a raiva que sentia pela humilhação sofrida.
- António, acompanha estes senhores ao portão e volta aqui por favor. Disse em voz seca o Jorge. O António naquele seu andar silencioso assentiu com a cabeça, deu um esgar de satisfação e empurrou leve mas firme o braço do soldado que deu uma sacudidela e encaminharam-se para a saída.
Na volta António entrou de novo no escritório, mirou o Jorge de alto a baixo depois olhou para Joana, mudo abriu os braços dirigindo-se ao Jorge, este entre o surpreendido e o agradecido acolhe aquele abraço e deixa-se envolver pelos braços rijos e fortes de António. Lembrou-se que fora ele que o ensinara a andar de bicicleta, que o ensinara a pescar. Veio-lhe á memória o olhar reprovador dele quando com a arma de pressão de ar matara um pardal. Fizera-lhe uma data de sinais, coléricos mas que ele percebera… O belo não se mata. Que saudade tivera do António fiel criado, amigo e confidente. Joana emocionada limpou uma lágrima rebelde com o avental. António mirou o Jorge e depois Joana, fez um sinal ao Jorge na direcção de Joana que este percebeu:
- Joana, importaste de sair? Joana ficava sempre furibunda quando a punham de parte, mas já sabia que nem valia a pena refilar, era assim com o pai, seria assim com o Jorge. Saiu contrafeita, fechando a porta com estrondo atrás de si. António dirigiu-se á porta encostou o ouvido nela como se assim conseguisse ouvir um indicio de que Joana ficara do outro lado a ouvir. Dirigiu-se ao grande rádio Am, ligou-o pondo o som alto o suficiente para se tornar quase incomodativo. Dirigiu-se á janela mais afastada do rádio e deu sinal a Jorge para que se acercasse. Este tinha estado o observar o António atónito, e acedeu a juntar-se-lhe no beiral da janela.
- Eu já sei quem fez isso. Ciciou António num ar triunfante e com um sorriso gaiato nos olhos que Jorge nunca tinha visto. Deu um salto para trás num misto de surpresa e incredulidade não pelo que disse…mas por dizer.
- Mas… tu… tu falas? A sala envolveu-se num cheiro espesso de cachimbo, até o travo da água-de-colónia do pai se sentia. Percebeu então porque sempre que o António se fechava com o pai no escritório ouvia o som rachado daquele rádio a transmitir emissões de antenas longínquas.
- E o que tenho eu a ver com isso? Disparou a pergunta como um dardo agudo e seco.
- Ò Senhor Jorge, todos sabemos que o Sr. tem contas a ajustar com essas pessoas, pelo menos assim o pensa. Respondeu o sargento.
- Mas porque diz que tenho contas a ajustar com eles? Há quase quinze anos que não venho à terra e no dia a seguir em que chego o facto de eles morrerem faz-me merecer a vossa visita?
- Por isso mesmo, a terra estava calma, de repente chega o Sr e acontecem estas mortes todas? Todos sabemos a circunstancia da morte do Sr. seu pai, a sua saída extemporânea. Isso faz-me pensar em si como suspeito.
- Mas o que tem a morte do meu pai a ver com a morte destes infelizes Sr. Sargento?
O sargento calou-se, sentindo que tinha caído na armadilha, ajeitou o largo cinturão em volta da barriga, olhou desconfortável o criado mudo por trás do Jorge. Investiu noutra direcção:
- Onde estavam os dois hoje a partir das 7.30 da manhã? Perguntou muito resoluto no seu papel de investigador.
- O Sr. não respondeu á minha pergunta Sargento. Respondeu o Jorge.
- Quem está aqui para responder a perguntas é o Sr. e não eu…atacou o Sargento
- Nesse caso o Sr. ponha-se fora da minha casa e só falarei consigo quando estiver munido de uma intimação para recolher o meu depoimento. Retrucou o Jorge.
- Pensei que podíamos levar isto a bem Sr. Jorge mas pelos vistos o Sr. é tão teimoso como o seu pai. Quando proferiu isto o velho António dá um passo em frente com os olhos munidos de fúria assassina, Jorge levantou o braço impedindo o avanço dele. Levantou-se e sem proferir uma palavra dirigiu-se á porta do escritório, abriu-a, não ficou surpreendido por dar de caras com a sua irmã Joana do outro, virou-se para trás e fez um sinal com a cabeça para o sargento, que compreendendo o gesto se pôs em movimento em direcção á saída:
- Eu voltarei Sr. Jorge e desta vez será pior para si ou para esse seu maldito criado mudo. Ameaçou entre dentes mal disfarçando a raiva que sentia pela humilhação sofrida.
- António, acompanha estes senhores ao portão e volta aqui por favor. Disse em voz seca o Jorge. O António naquele seu andar silencioso assentiu com a cabeça, deu um esgar de satisfação e empurrou leve mas firme o braço do soldado que deu uma sacudidela e encaminharam-se para a saída.
Na volta António entrou de novo no escritório, mirou o Jorge de alto a baixo depois olhou para Joana, mudo abriu os braços dirigindo-se ao Jorge, este entre o surpreendido e o agradecido acolhe aquele abraço e deixa-se envolver pelos braços rijos e fortes de António. Lembrou-se que fora ele que o ensinara a andar de bicicleta, que o ensinara a pescar. Veio-lhe á memória o olhar reprovador dele quando com a arma de pressão de ar matara um pardal. Fizera-lhe uma data de sinais, coléricos mas que ele percebera… O belo não se mata. Que saudade tivera do António fiel criado, amigo e confidente. Joana emocionada limpou uma lágrima rebelde com o avental. António mirou o Jorge e depois Joana, fez um sinal ao Jorge na direcção de Joana que este percebeu:
- Joana, importaste de sair? Joana ficava sempre furibunda quando a punham de parte, mas já sabia que nem valia a pena refilar, era assim com o pai, seria assim com o Jorge. Saiu contrafeita, fechando a porta com estrondo atrás de si. António dirigiu-se á porta encostou o ouvido nela como se assim conseguisse ouvir um indicio de que Joana ficara do outro lado a ouvir. Dirigiu-se ao grande rádio Am, ligou-o pondo o som alto o suficiente para se tornar quase incomodativo. Dirigiu-se á janela mais afastada do rádio e deu sinal a Jorge para que se acercasse. Este tinha estado o observar o António atónito, e acedeu a juntar-se-lhe no beiral da janela.
- Eu já sei quem fez isso. Ciciou António num ar triunfante e com um sorriso gaiato nos olhos que Jorge nunca tinha visto. Deu um salto para trás num misto de surpresa e incredulidade não pelo que disse…mas por dizer.
- Mas… tu… tu falas? A sala envolveu-se num cheiro espesso de cachimbo, até o travo da água-de-colónia do pai se sentia. Percebeu então porque sempre que o António se fechava com o pai no escritório ouvia o som rachado daquele rádio a transmitir emissões de antenas longínquas.
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