Absorta Joana arrumava a cozinha, metodicamente encastelava as bacias, limpava os pratos lavados de véspera e arrumava-os no louceiro de madeira com pequenas ripas separadoras para cada prato, as chávenas eram colocadas em pequenos ganchos suspensas pela asa, bem como os talheres meticulosamente separados pelas suas funções na gaveta devida. Na parte de baixo do armário arrumava as travessas e saladeiras. Quando se agachava para colocar uma travessa viu uns pés que reconheceu de imediato, um frio percorreu-lhe a espinha, apesar de habituada nunca conseguiu deixar de sentir esse arrepio:
- Ó António, quantas vezes é preciso dizer que não gosto que me apareças assim de repente como um gato? Pareces uma alma penada… - O António exibiu um esgar que para ela podia ser interpretado como um sorriso, fez um sinal com dois dedos por cima do ombro esquerdo e apontou para cima, de seguida unindo as palmas das mãos inclinou a cabeça sobre elas e abanou os ombros em jeito de interrogação.
- Ainda deve estar a dormir António, que lhe queres? Atirou a Joana interpretando a pergunta de António. Acto continuo o António abanou os ombros dando-lhe e entender que não era assuntos dela.
- Ó António, não vais começar agora com esses segredos com ele como fazias com o meu pai, que nunca ninguém, percebeu, isso. O empregado voltou a abanar os ombros como que não se importando com as lengalengas dela. O sino do portão tocou estridente e insistente. Joana e António entreolharam-se interrogativamente, o sino tocou novamente ainda mais insistente.
- Ó António vai lá ver quem é a estas horas, o carteiro não pode ser que é cedo.
O Velho desceu o escadario á saída da porta da cozinha, rodeou a casa pelo trilho entre os arbustos, acercando-se do portão, espreitou pelas frestas, e viu o sargento, e um soldado do posto da Guarda da aldeia. Virou-se para trás, viu o vulto do Jorge numa das janelas do piso superior, virou-se de novo e abriu repentinamente o portão, tão rápido que os dois militares deram um salto para trás. O Sargento Malheiro fumegou de impaciência e deu um passo em frente resoluto na intenção de entrar pela propriedade dentro, António moveu o tronco impedindo a sua passagem, o sargento resfolegou de impotência num ar assoberbado que lhe fazia a rotunda barriga ainda maior.
- Eu já sei que o Sr. Jorge está cá, aconteceram várias coisas sobre as quais preciso de lhe fazer umas perguntas. Disse o sargento para o António. Este manteve-se impávido, mirando o Sargento de cima da sua altura, o sol por trás da sua nuca dava um ar sinistro á imagem que o sargento mirava com os olhos semi-cerrados. As ervas altas, o longo muro empedrado, o telhado visível por cima das camélias. “que raio, em Janeiro camélias em flor? E este cheiro a tabaco de cachimbo e não está aqui ninguém a fumar” cogitava o assustado sargento, em ar furibundo com o António.
- António? – Fez-se ouvir – Abre o portão a esses senhores. O Sargento espreitou por trás dos altos ombros do António e descortinou o semblante carregado e grave de Jorge, naquela altivez que o “maldito pai” tinha. O sargento aproveitou a aberta que o desviar de António prontamente lhe proporcionou e aprestou-se a entrar na propriedade.
- Sr. Jorge, tenho pena de não lhe poder dar as boas-vindas, algo de muito grave aconteceu… - começou o sargento de imediato a falar enquanto caminhava para o Jorge de mão estendida para o cumprimentar. Jorge não retirou as mãos dos bolsos.
- Porque não falamos lá dentro Sr. Sargento? – interrompeu o Jorge virando as costas ao sargento e iniciando a sua marcha para a entrada principal da casa completamente alheio ao arfar de esforço que fazia o sargento a subir as escadas com o soldado atrás de si e o António a fechar a fila serpenteante pela estrada da casa no caminho até ao escritório. Ali chegados António estacou á porta.
- Entre António – Ordenou o Jorge.
- Não Sr. Jorge, eu queria falar consigo em privado. Retrucou o Sargento.
- O Sr. está em minha casa, e vai falar na presença de quem eu quiser…- disse o Jorge.
O Sargento olhou para o soldado olhou de novo para o Jorge e calou-se num jeito de assentimento. António entrou e ficou de pé por trás do Jorge que entretanto se sentara na poltrona que dominava a sala:
- Então os que os trás cá – perguntou o Jorge não os convidando para sentar, deixando-os numa posição incómoda face ao visível conforto do Jorge. “Maldito!”, pensou o sargento deixando transparecer esse pensamento numa centelha que não passou despercebido ao António, que lhe sorriu num esgar que o arrepiou.
- Hoje foram assassinados o Sr. Miguel Tondela de Barros e o seu motorista e mais dois moços da aldeia que trabalhavam para ele crimes que tudo indica estarem relacionados já que se deram com diferença de 2 horas entre o primeiro e o ultimo assassínio - O Jorge não transpareceu nenhuma emoção, mas o intimo dele ficou em alvoroço, o olhar pareceu perdido ao Sargento mas Jorge mirava o espelho na parede com a moldura em talha dourada onde se reflectia o rosto de António, sem emoção, sem surpresa…
- Ó António, quantas vezes é preciso dizer que não gosto que me apareças assim de repente como um gato? Pareces uma alma penada… - O António exibiu um esgar que para ela podia ser interpretado como um sorriso, fez um sinal com dois dedos por cima do ombro esquerdo e apontou para cima, de seguida unindo as palmas das mãos inclinou a cabeça sobre elas e abanou os ombros em jeito de interrogação.
- Ainda deve estar a dormir António, que lhe queres? Atirou a Joana interpretando a pergunta de António. Acto continuo o António abanou os ombros dando-lhe e entender que não era assuntos dela.
- Ó António, não vais começar agora com esses segredos com ele como fazias com o meu pai, que nunca ninguém, percebeu, isso. O empregado voltou a abanar os ombros como que não se importando com as lengalengas dela. O sino do portão tocou estridente e insistente. Joana e António entreolharam-se interrogativamente, o sino tocou novamente ainda mais insistente.
- Ó António vai lá ver quem é a estas horas, o carteiro não pode ser que é cedo.
O Velho desceu o escadario á saída da porta da cozinha, rodeou a casa pelo trilho entre os arbustos, acercando-se do portão, espreitou pelas frestas, e viu o sargento, e um soldado do posto da Guarda da aldeia. Virou-se para trás, viu o vulto do Jorge numa das janelas do piso superior, virou-se de novo e abriu repentinamente o portão, tão rápido que os dois militares deram um salto para trás. O Sargento Malheiro fumegou de impaciência e deu um passo em frente resoluto na intenção de entrar pela propriedade dentro, António moveu o tronco impedindo a sua passagem, o sargento resfolegou de impotência num ar assoberbado que lhe fazia a rotunda barriga ainda maior.
- Eu já sei que o Sr. Jorge está cá, aconteceram várias coisas sobre as quais preciso de lhe fazer umas perguntas. Disse o sargento para o António. Este manteve-se impávido, mirando o Sargento de cima da sua altura, o sol por trás da sua nuca dava um ar sinistro á imagem que o sargento mirava com os olhos semi-cerrados. As ervas altas, o longo muro empedrado, o telhado visível por cima das camélias. “que raio, em Janeiro camélias em flor? E este cheiro a tabaco de cachimbo e não está aqui ninguém a fumar” cogitava o assustado sargento, em ar furibundo com o António.
- António? – Fez-se ouvir – Abre o portão a esses senhores. O Sargento espreitou por trás dos altos ombros do António e descortinou o semblante carregado e grave de Jorge, naquela altivez que o “maldito pai” tinha. O sargento aproveitou a aberta que o desviar de António prontamente lhe proporcionou e aprestou-se a entrar na propriedade.
- Sr. Jorge, tenho pena de não lhe poder dar as boas-vindas, algo de muito grave aconteceu… - começou o sargento de imediato a falar enquanto caminhava para o Jorge de mão estendida para o cumprimentar. Jorge não retirou as mãos dos bolsos.
- Porque não falamos lá dentro Sr. Sargento? – interrompeu o Jorge virando as costas ao sargento e iniciando a sua marcha para a entrada principal da casa completamente alheio ao arfar de esforço que fazia o sargento a subir as escadas com o soldado atrás de si e o António a fechar a fila serpenteante pela estrada da casa no caminho até ao escritório. Ali chegados António estacou á porta.
- Entre António – Ordenou o Jorge.
- Não Sr. Jorge, eu queria falar consigo em privado. Retrucou o Sargento.
- O Sr. está em minha casa, e vai falar na presença de quem eu quiser…- disse o Jorge.
O Sargento olhou para o soldado olhou de novo para o Jorge e calou-se num jeito de assentimento. António entrou e ficou de pé por trás do Jorge que entretanto se sentara na poltrona que dominava a sala:
- Então os que os trás cá – perguntou o Jorge não os convidando para sentar, deixando-os numa posição incómoda face ao visível conforto do Jorge. “Maldito!”, pensou o sargento deixando transparecer esse pensamento numa centelha que não passou despercebido ao António, que lhe sorriu num esgar que o arrepiou.
- Hoje foram assassinados o Sr. Miguel Tondela de Barros e o seu motorista e mais dois moços da aldeia que trabalhavam para ele crimes que tudo indica estarem relacionados já que se deram com diferença de 2 horas entre o primeiro e o ultimo assassínio - O Jorge não transpareceu nenhuma emoção, mas o intimo dele ficou em alvoroço, o olhar pareceu perdido ao Sargento mas Jorge mirava o espelho na parede com a moldura em talha dourada onde se reflectia o rosto de António, sem emoção, sem surpresa…
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