segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O fado da fonte


Ia ela todos os dias á fonte
Olhos fundos, pretos os cabelos
Que lhe caiam em suaves novelos
Á imaginação faziam a ponte

Faces trigueiras, descalços os pés
Atravessava o caminho até á fonte
Logo ali ao sopé do monte
- Tão linda, Maria que és

Dizia o pobre e enamorado João
Á menina que assim sem saber
Mesmo suja os montes percorrer
Lhe embriagava o triste coração

Todos os dias o João ficava
A espera de ver a suave visão
Que lhe atropelava a paixão
E na alma se lhe gravava

A Maria fazia-se despercebida
Alegre e cantante nada notava
Dos olhares que o João lhe deitava
Rogava á Senhora da Aparecida

Que todos os dias ele lá estivesse
De olhar manso e envergonhado
Coração triste e trespassado
E declaração sentida lhe fizesse

Um certo dia foi a Maria á fonte
Convicta que seu João a esperava
Só a fonte sozinha na tarde estava
Ele nesse dia não desceu o Monte

Chegara a Carta da triste chamada
Disseram depois á Triste Maria
Que perdeu assim toda a alegria
Da fonte em morna cantada

Veio depois a notícia fatal
Que má nova rápido augura
João morrera em lenta tortura
Lá por alturas do Natal

Morrera onde não é celebrado
Lá por África onde foi mandado
Em ventos de guerra esforçado
O pobre João Apaixonado

Secou a menina os olhos sem alegria
Secou também a cantante fonte
Mirrou a erva e a urze do Monte
Sem seu João, morreu a Maria


É hoje lembrado e recontado
O triste fado, dos apaixonados
Em amores e paixões levados
Repousam enfim lado a lado

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