terça-feira, 12 de maio de 2009

O velho que morreu sem ver o mar


Velho como a serra que calcorreia,
De perna bamba, às costas o cajado,
Barba rala, nariz adunco, pele macerada
Por companhia leva as ovelhas ao lado.

Suja e gasta presa nos finos ossos
A carne que lhe resta entremeada na pele
O velho caminha sem destino e sem lar
Exaurido pelos anos que das narinas expele.

Barqueiro sem barco, nem jangada
Em rio sem vida de margem estreita
Sobe a serra em passo dolente
Na busca de pasto e da paisagem perfeita

Nos olhos reflecte o verde dos montes
Mas era o azul imenso que ele queria,
Do grande rio sem margens, que lhe falam
As gentes que dali saíram um dia.

Um rio imenso onde pastaria sonhos
Perdido no alcance da margem inatingível.
Lá onde o céu se une a esse rio
Podia ser então o seu sonho possível

Ser menino outra vez e nos pés ter areia,
Não a terra ingrata que nunca o soube amar,
Morrer desfalecido na visão do azul,
Do imenso azul do céu e do mar

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