domingo, 24 de maio de 2009

Ser pobre um dia...


O João da Nora trabalha no campo
Rompe a pele em cabo de enxada
Trabalha também na fábrica
Rompe os pulmões até de madrugada

Respira a bosta de boi durante o dia
O amoníaco ácido durante a noite
Que lhe queima os pulmões e o cérebro
A jorna acaba dorida como um açoite

Leva na lancheira o pão e a tristeza
Por todos os poros arrota desgraças
Já não é novo, ele sabe-o e sente-o
Roga ao Senhor, lhe traga novas graças

E não pede muito o João, velho
Embora de idade seja novo
Pede o direito á diferença
Entre os velhos deste povo

Fecha os olhos ajoelhado ao Altar
E pede a graça de ser pobre um dia
Para que assim não o seja todos os dias
Que lhe renove uma vida sem agonia

1 comentário:

  1. Gosto do poema, mas a última quadra poderia ser um bocadinho melhorada. Mas está excelente, sobretudo pelo tema.

    Beijo doce

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