O padre Agostinho deu em jeito enfadado as despedidas cristãs de fim de missa:
- Abençoe-vos Deus Pai todo-poderoso, Pai, filho e espírito santo, ide em paz e o senhor vos acompanhe acompanhando o que dizia com uma bênção manual rápida a todos os fiéis. Apressadamente como era seu timbre, encaminhou-se para a sacristia com o sacristão atrás, ali chegado despiu os paramentos cerimoniais, arrumou os livros litúrgicos, enquanto o sacristão lhe dobrava os paramentos e os colocava nas grandes gavetas do móvel pesado que revestia todo o comprimento da parede de pedra da sacristia com um crucifixo marcado pelo tempo e abandono por cima. Entregue aos seus pensamentos não ouvia o resmungar surdo do sacristão na pressa de arrumar tudo rapidamente para se dedicar às lides do campo do Abade cujo trabalho de feitor acumulava com este de sacristão. Nesse momento ouviram-se passos rápidos vindos da porta que dava para a saída lateral da sacristia directamente para ao adro da igreja:
- Sôr Abade, Sôr Abade – Chamava a velha Inácia no seu passo apressado.
- O que foi agora mulher de Deus? – Perguntou o Padre visivelmente contrariado pela interrupção dela
- O Sôr Abade nem calcula quem chegou – Disse a beata feliz pela novidade que trazia.
- Ò mulher, se não me disseres não adivinho de certeza, agora vai mas é embora e deixa-me que ‘tou com pressa – resmungou o Padre continuando com os seus afazeres na pressa de fazer a visita diária á sua adega para o “mata-bicho” matinal.
- O Jorge, filho do Sr. Jorge Maria Braga voltou…
O padre parou o que estava a fazer como que se imobilizando, o sacristão estacou também boquiaberto.
- Que estás para aí a dizer mulher? Perguntou o abade como se não tivesse ouvido bem.
- É como lhe digo, ele voltou…- reafirma a beata.
Uma ruga de preocupação atravessa a testa do padre, eis chegado o momento que sempre temeu mas que com o passar dos anos foi esmorecendo e transformando-se em esperança que as coisas morressem por ali. A velha seguiu-se ao marido tomada pelo desgosto, a filha endoideceu e enclausurou-se, o criado, mudo não dizia nada. Tudo indicava com o passar dos anos que ficaria assim mesmo. Mas essa espécie de anjo negro voltou, o que quererá ele? Quais serão as suas intenções? Se calhar só visitar a irmã, depressa voltará de onde veio. Mas, por onde terá andado estes anos todos?
O vento frio e cortante entrou pela porta que a Inácia tinha deixado aberta enregelando todos.
Ainda estremunhado pelo sono Artur montou a sua mota em direcção ao café da aldeia, poiso habitual antes de ir para o trabalho, o vento frio da manhã cortava-lhe as mãos. Ao chegar entrou no café, olhos vítreos e lacrimejantes do frio acercou-se do balcão, olhou em volta, todos calados como habitual, mas era um mutismo esquisito, não era aquele ar ensonado que parecia que se pegava nas paredes sujas do café, não era o silêncio de lamento pela jorna suada que deixava o balcão com aquelas nódoas sujas que se acumulavam umas por cima das outras, não, o silêncio naquele dia era diferente. Artur ajeita com a mão a melena alteada pelo vento e diz ao dono do café que lhe desse o bagaço e o cimbalino da ordem. O homem sem dizer nada tira o café, coloca-o no balcão, enche o cálice de bagaço, dá uma fungadela e diz:
- Sabes quem chegou á vila ontem?
- Ó Tónio, sei lá quem chegou á vila, como caralho queres que saiba se me levantei da cama agora? Responde o Artur.
- Foi o Jorge de Fundo de Vila…
O vento corria inexorável, entrava por todas as frestas das janelas, das portas, esculpia os cantos e arestas da pedra bruta, burilava os cérebros tomados pelo bagaço da manhã num frio que nem o álcool disfarçava.
- Puta de terra maldita, esta – Pensava o Artur.
- Abençoe-vos Deus Pai todo-poderoso, Pai, filho e espírito santo, ide em paz e o senhor vos acompanhe acompanhando o que dizia com uma bênção manual rápida a todos os fiéis. Apressadamente como era seu timbre, encaminhou-se para a sacristia com o sacristão atrás, ali chegado despiu os paramentos cerimoniais, arrumou os livros litúrgicos, enquanto o sacristão lhe dobrava os paramentos e os colocava nas grandes gavetas do móvel pesado que revestia todo o comprimento da parede de pedra da sacristia com um crucifixo marcado pelo tempo e abandono por cima. Entregue aos seus pensamentos não ouvia o resmungar surdo do sacristão na pressa de arrumar tudo rapidamente para se dedicar às lides do campo do Abade cujo trabalho de feitor acumulava com este de sacristão. Nesse momento ouviram-se passos rápidos vindos da porta que dava para a saída lateral da sacristia directamente para ao adro da igreja:
- Sôr Abade, Sôr Abade – Chamava a velha Inácia no seu passo apressado.
- O que foi agora mulher de Deus? – Perguntou o Padre visivelmente contrariado pela interrupção dela
- O Sôr Abade nem calcula quem chegou – Disse a beata feliz pela novidade que trazia.
- Ò mulher, se não me disseres não adivinho de certeza, agora vai mas é embora e deixa-me que ‘tou com pressa – resmungou o Padre continuando com os seus afazeres na pressa de fazer a visita diária á sua adega para o “mata-bicho” matinal.
- O Jorge, filho do Sr. Jorge Maria Braga voltou…
O padre parou o que estava a fazer como que se imobilizando, o sacristão estacou também boquiaberto.
- Que estás para aí a dizer mulher? Perguntou o abade como se não tivesse ouvido bem.
- É como lhe digo, ele voltou…- reafirma a beata.
Uma ruga de preocupação atravessa a testa do padre, eis chegado o momento que sempre temeu mas que com o passar dos anos foi esmorecendo e transformando-se em esperança que as coisas morressem por ali. A velha seguiu-se ao marido tomada pelo desgosto, a filha endoideceu e enclausurou-se, o criado, mudo não dizia nada. Tudo indicava com o passar dos anos que ficaria assim mesmo. Mas essa espécie de anjo negro voltou, o que quererá ele? Quais serão as suas intenções? Se calhar só visitar a irmã, depressa voltará de onde veio. Mas, por onde terá andado estes anos todos?
O vento frio e cortante entrou pela porta que a Inácia tinha deixado aberta enregelando todos.
Ainda estremunhado pelo sono Artur montou a sua mota em direcção ao café da aldeia, poiso habitual antes de ir para o trabalho, o vento frio da manhã cortava-lhe as mãos. Ao chegar entrou no café, olhos vítreos e lacrimejantes do frio acercou-se do balcão, olhou em volta, todos calados como habitual, mas era um mutismo esquisito, não era aquele ar ensonado que parecia que se pegava nas paredes sujas do café, não era o silêncio de lamento pela jorna suada que deixava o balcão com aquelas nódoas sujas que se acumulavam umas por cima das outras, não, o silêncio naquele dia era diferente. Artur ajeita com a mão a melena alteada pelo vento e diz ao dono do café que lhe desse o bagaço e o cimbalino da ordem. O homem sem dizer nada tira o café, coloca-o no balcão, enche o cálice de bagaço, dá uma fungadela e diz:
- Sabes quem chegou á vila ontem?
- Ó Tónio, sei lá quem chegou á vila, como caralho queres que saiba se me levantei da cama agora? Responde o Artur.
- Foi o Jorge de Fundo de Vila…
O vento corria inexorável, entrava por todas as frestas das janelas, das portas, esculpia os cantos e arestas da pedra bruta, burilava os cérebros tomados pelo bagaço da manhã num frio que nem o álcool disfarçava.
- Puta de terra maldita, esta – Pensava o Artur.
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