quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Elegia da loucura


Eu não sou eu,
Nem sou o outro,
Nem sequer sou…
Sou algo de ininteligível
Entre mim e o outro,
Farrapo diáfano mesclado
De uma teia emaranhada
Na trama que teço
De um outro que não eu.
Rompo a cervical
Em movimentos alucinados
Para lá e para cá
De mim, para o outro
Num batucar nervoso
Que me rompe as falanges
No batuque do outro,
Ponte de intermédio
De margens opostas
De costas voltadas,
Interstícios rebuscados
Que fedem em defecações estagnadas
Num devir mictório
Que reluz amarelo na noite urinária
Que não ordinária
Por uma ordem desordenada.
Rasto de sangue e puz
Que água benta não lava
Excretada por cus papais abençoados

Eu não sou eu…
Nem sou o outro
Sou grão burilado
Pela poeira soprada
Da boca do outro
Vela enfunada pelos ventos alísios
Anticiclone manso
Do cabrão que não sou eu
Suco gástrico e aziático
De uma modorra pestilenta
Que se me esgota pelos apêndices
Por todos…
Sem saber … nem vir.
Só lá…escorre-me pelos cantos da boca
De lábios que não são meus.
Do outro?
E porque lhe sinto a amarga pestilência?

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