O Sr. José era velho, tão velho que na aldeia ninguém se lembrava dele novo, como seria o seu falar ainda de rapaz ou a voz grossa de homem feito. Na tasca da aldeia onde os homens rompiam as falanges nos balcões de mármore no tamborilar impaciente da chegada de mais uma pinga dizia-se que ele devia ter mais de cem anos mas ninguém lhe dava mais de 50 e picos, 60 e coisa, 70 e tal. Uma indefinição que a jorna da terra lhe sulcava no corpo alquebrado, nos pés de galinha profundos em volta dos olhos, os rasgos no canto da boca que lhe afilavam os lábios já de si finos, e uma testa que parecia percorrida por um arado.
O Sr. José ia casar finalmente com a Zulmira, mulher recatada e trabalhadeira, filha mais nova de um grupo de 15 irmãos e que tinha ficado na casa materna até que o Senhor chamara a mãe para a última morada cumprindo assim a tradição de cuidar dos velhos pais até ao último suspiro. A Zulmira fizera também ela essa dobra na idade em que já não se consegue definir os anos que lhe passaram nas vértebras doidas da espinha dobrada no manejo da enxada. Com a morte da mãe a sua única fortuna era a vaca galega cuja afeição a tinha impedido de a mandar para o matadouro quando os úberes secaram e as forças lhe faltaram para aguentar com o cabresto e puxar o arado e ficou assim a modos que o animal de estimação da Zulmira.
O casamento foi motivo de galhofa e enriqueceu o anedotário da taberna, com piadas que punham em dúvida a virilidade do Sr. José e a capacidade que teria em meter dentro os tampos tão antigos da Zulmira, que todos juravam ceguinhos ela ainda teria por via da sua feiura que afugentara sempre os mais corajosos e afoitos. Por sua vez o Sr. José gozava da fama de mulherengo apesar da idade e contava-se à boca pequena as suas viagens à cidade grande onde gastaria o pequeno pecúlio arrecadado nos negócios fortuitos da venda de gado.
O Sr. José era homem à antiga, que se fazia respeitar e a Zulmira mesmo casada com ele continuava a tratá-lo por Sr. José e dedicava-lhe o mesmo esmero e atenção que dedicou á mãe até à hora da morte. O Sr. José no fim do almoço ia para baixo da vinha no fundo do quintal gozando a sombra prazenteira com uma vasilha de tremoços e azeitonas, um pedaço de broa e uma enfusa de vinho, a qual quando acabava o fazia dar altos berros à Zulmira
- Ó mulher enche-me a enfusa…- e lá vinha a Zulmira quintal abaixo buscar a enfusa vazia, subia o quintal, ia à adega enchia a enfusa, descia novamente o quintal deixava a enfusa ao Sr. José e subia de novo o quintal para continuar os afazeres. O Sr. José era cioso do aprumo do quintal:
- Ó mulher, é preciso podar a pereira.
-Ó mulher, é preciso capar os tomates
- Ó mulher, a alface precisa de ser colhida para ir para a feira.
E a Zulmira lá ia no seu vagar sem nunca reclamar acedendo às ordens do Sr. José.
Um dia na volta de uma das suas misteriosas viagens o Sr. José trazia no alvo colarinho uma mancha suspeita. A Zulmira indagou-o da proveniência de tão indigna nódoa.
- É sabão da barba…- respondeu o Sr. José.
- Não pode ser Sr. José, isso parece aqueles “pozes” que as mulheres finas usam – respondeu a Zulmira numa voz segura e firme que surpreendeu até ao Sr. josé.
- É sabão da barba, é sabão da barba e não se fala mais nisso. – Vociferou o Sr. José num tom de voz que não permitia réplicas. A Zulmira calou-se numa fúria que nunca tinha sentido, a vaca galega afinou a longa orelha percebendo os humores da dona. O Sr José tirou o laço, pegou na enfusa e dirigiu-se para o fundo da vinha seguido pela vaca galega. A Zulmira tinha feito á força de enxada um rego para conduzir as águas da fossa para o batatal enquanto o Sr. José estava fora, este não contando com o fundo rego caiu de frente no rego afundando o corpo em meio metro de águas pútridas e fedidas ricas em húmus para s terras, a vaca Zulmira inadvertidamente colocou-lhe a pata por cima da cabeça parando o andar lento e o olhar no fundo do quintal, abanando a cauda sobre o lombo para enxotar a mosca. A Zulmira estranhando a duração da enfusa que já devia ter esgotado foi quintal abaixo e encontrou o Sr. José afundado na merda e no mijo, já sem respirar, molhado e inerte, a vaca galega mugiu a finados…
Os anos passaram-se e a Zulmira ficou dona das extensas terras do sr. José, as estradas já estavam alcatroadas, o lar de idosos da aldeia já tinha sido fundado.
Ia pela estrada até ao cemitério decorar a campa dos seus pais e do seu Sr. José, à vinda perguntavam-lhe:
- Ó Zulmira, porque não vais para o lar, ao menos lá tinhas companhia, alguém cuidava de ti…
- Eu cá “num” preciso disso, tenho a minha galega que já me faz companhia que chegue – e continuava o seu passo quebradiço apoiado já por um cajado na berma da estrada coma galega a ladeá-la protegendo-a dos incautos motoqueiros e motoristas que aproveitavam o asfalto da estrada para se finarem nas bermas. A galega era a rocha em que contra tudo se desfazia.
O Sr. José ia casar finalmente com a Zulmira, mulher recatada e trabalhadeira, filha mais nova de um grupo de 15 irmãos e que tinha ficado na casa materna até que o Senhor chamara a mãe para a última morada cumprindo assim a tradição de cuidar dos velhos pais até ao último suspiro. A Zulmira fizera também ela essa dobra na idade em que já não se consegue definir os anos que lhe passaram nas vértebras doidas da espinha dobrada no manejo da enxada. Com a morte da mãe a sua única fortuna era a vaca galega cuja afeição a tinha impedido de a mandar para o matadouro quando os úberes secaram e as forças lhe faltaram para aguentar com o cabresto e puxar o arado e ficou assim a modos que o animal de estimação da Zulmira.
O casamento foi motivo de galhofa e enriqueceu o anedotário da taberna, com piadas que punham em dúvida a virilidade do Sr. José e a capacidade que teria em meter dentro os tampos tão antigos da Zulmira, que todos juravam ceguinhos ela ainda teria por via da sua feiura que afugentara sempre os mais corajosos e afoitos. Por sua vez o Sr. José gozava da fama de mulherengo apesar da idade e contava-se à boca pequena as suas viagens à cidade grande onde gastaria o pequeno pecúlio arrecadado nos negócios fortuitos da venda de gado.
O Sr. José era homem à antiga, que se fazia respeitar e a Zulmira mesmo casada com ele continuava a tratá-lo por Sr. José e dedicava-lhe o mesmo esmero e atenção que dedicou á mãe até à hora da morte. O Sr. José no fim do almoço ia para baixo da vinha no fundo do quintal gozando a sombra prazenteira com uma vasilha de tremoços e azeitonas, um pedaço de broa e uma enfusa de vinho, a qual quando acabava o fazia dar altos berros à Zulmira
- Ó mulher enche-me a enfusa…- e lá vinha a Zulmira quintal abaixo buscar a enfusa vazia, subia o quintal, ia à adega enchia a enfusa, descia novamente o quintal deixava a enfusa ao Sr. José e subia de novo o quintal para continuar os afazeres. O Sr. José era cioso do aprumo do quintal:
- Ó mulher, é preciso podar a pereira.
-Ó mulher, é preciso capar os tomates
- Ó mulher, a alface precisa de ser colhida para ir para a feira.
E a Zulmira lá ia no seu vagar sem nunca reclamar acedendo às ordens do Sr. José.
Um dia na volta de uma das suas misteriosas viagens o Sr. José trazia no alvo colarinho uma mancha suspeita. A Zulmira indagou-o da proveniência de tão indigna nódoa.
- É sabão da barba…- respondeu o Sr. José.
- Não pode ser Sr. José, isso parece aqueles “pozes” que as mulheres finas usam – respondeu a Zulmira numa voz segura e firme que surpreendeu até ao Sr. josé.
- É sabão da barba, é sabão da barba e não se fala mais nisso. – Vociferou o Sr. José num tom de voz que não permitia réplicas. A Zulmira calou-se numa fúria que nunca tinha sentido, a vaca galega afinou a longa orelha percebendo os humores da dona. O Sr José tirou o laço, pegou na enfusa e dirigiu-se para o fundo da vinha seguido pela vaca galega. A Zulmira tinha feito á força de enxada um rego para conduzir as águas da fossa para o batatal enquanto o Sr. José estava fora, este não contando com o fundo rego caiu de frente no rego afundando o corpo em meio metro de águas pútridas e fedidas ricas em húmus para s terras, a vaca Zulmira inadvertidamente colocou-lhe a pata por cima da cabeça parando o andar lento e o olhar no fundo do quintal, abanando a cauda sobre o lombo para enxotar a mosca. A Zulmira estranhando a duração da enfusa que já devia ter esgotado foi quintal abaixo e encontrou o Sr. José afundado na merda e no mijo, já sem respirar, molhado e inerte, a vaca galega mugiu a finados…
Os anos passaram-se e a Zulmira ficou dona das extensas terras do sr. José, as estradas já estavam alcatroadas, o lar de idosos da aldeia já tinha sido fundado.
Ia pela estrada até ao cemitério decorar a campa dos seus pais e do seu Sr. José, à vinda perguntavam-lhe:
- Ó Zulmira, porque não vais para o lar, ao menos lá tinhas companhia, alguém cuidava de ti…
- Eu cá “num” preciso disso, tenho a minha galega que já me faz companhia que chegue – e continuava o seu passo quebradiço apoiado já por um cajado na berma da estrada coma galega a ladeá-la protegendo-a dos incautos motoqueiros e motoristas que aproveitavam o asfalto da estrada para se finarem nas bermas. A galega era a rocha em que contra tudo se desfazia.
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