domingo, 14 de junho de 2009

Um menino que me sorriu numa tarde de chuva


Acendi um cigarro, formei uma bola de fumo na primeira baforada que expeli, o menino ofereceu-me um sorriso cariado, perante a façanha propositada para lhe desapertar o laço da língua, ficou assim com o sorriso castanho desenhado, olhitos brilhantes, pele já macerada:

- Queres uma chiclete? – Perguntei-lhe. Abanou um dos ombros como que passando para mim essa decisão, a de ele querer ou não. Eu decidi que sim, e mandei o Jorge dar-lhe a chiclete.

- Diz obrigado ao senhor – Ordenou a mãe numa tentativa de demonstrar que lhe ensinava boas maneiras. O menino desenhou de novo o sorriso primeiro para a mãe, depois para mim. A mãe desenhou outro sorriso, este farseiro de dente em falta, numa aparente disponibilidade que recusei com um desviar de olhar, virando-o de novo para o menino que acorria já ao chamamento da mãe. A rua desenhava-se nevoeiro dentro, salpicado pelos aguaceiros, indolentes as imagens desapareciam à medida que caminhavam. Caminham sempre as imagens, vêm não sei de onde mas sempre em rota de fuga no nevoeiro que as adensa. Até ao sorriso do menino… Adivinho-lhe o sumiço.O cigarro esquecido entre os dedos queimou-me as falanges.

- Vens? – Perguntou-me um amigo que me esperava para almoçar

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